Em algum lugar do meu cérebro estão guardadas as fotografias que minha câmera fotográfica mental capturou ao longo da minha história. De vez em quando, alguns estímulos fazem com que elas surjam na minha mente. Quando me reporto à minha infância, várias cenas da vida em família surgem, e as cenas de minha mãe são muito marcantes. A presença dela, até certa idade da minha vida, foi muito importante e gratificante.
Lembro-me muito de minha mãe assentada diante da máquina de costura fazendo roupas para os filhos. Ela não era uma excelente costureira, mas conseguia driblar suas deficiências. Seu método era bastante interessante. Para cada um dos filhos, ela tinha um molde em papel, identificado com o nome deles. À medida em que os filhos cresciam, ela aumentava o molde. Penso que de vez em quando ela o substituía por um novo.
Lembro-me também da minha mãe lavando o chão da casa. Por incrível que pareça, o assoalho da casa era lavado com muita água e sabão depois que secava. É isso mesmo. Ele ficava com uma cor amarelada bonita, com aparência de muito limpo. Não me lembro da periodicidade exata dessa prática. Não era muito frequente, mas me lembro muito bem de algumas delas. Era uma tarefa que ocupava uma boa parte do dia, e não podíamos entrar nos aposentos da casa enquanto isso acontecia.
Outra cena que vem à mente é de minha mãe cuidando da alimentação da família. Ela também não era uma cozinheira de destaque, mas tudo que ela fazia era gostoso. Aliás, eu não tinha mesmo outra referência; acho que, na minha mente de criança, minha mãe era a única pessoa que sabia fazer comida. O fogão não era a gás e nem daqueles fogões a lenha. Era um fogão de ferro que tinha duas portinholas, sendo uma para introduzir a lenha e outra para retirar as cinzas. A minha mãe usava as cinzas para fazer sabão. Não, você não leu errado: ela usava cinzas na confecção de sabão. Eu explico em particular, caso você tenha ficado curioso.
Outra cena da qual nunca me esqueci é de minha mãe lendo a Bíblia com os três filhos mais novos. Ela sempre fazia isso. Às vezes, estávamos com muito sono e pedíamos para ler o salmo 117; ela o fazia, mas depois ainda lia outros. Acho que foi nessa época que ela decorou os muitos salmos que recitava. Em outros momentos, ela lia uma revista de histórias. Nós amávamos aquelas narrativas, e uma delas, em especial, marcou minha vida. Depois, eu digo qual foi.
O tempo passou, e muitas cenas certamente foram apagadas. Outras passaram a ocupar a mente. As mais recentes são daquela antiga guerreira outrora ativa e agitada, agora calma e serena, assentada na sua poltrona, com olhar distante e aparência de alguém que estava pronto para partir.
E minha mãe de fato partiu, em ditosa velhice. Aquela poltrona ficou vazia, mas o meu coração ficou cheio de gratidão por ter tido uma mãe tão especial, a qual o Senhor capacitou para fazer de um menino travesso um servo de Deus.
Rev. Sílvio Ferreira