Categories

Nosso Blog

O que você quer que a Bíblia diga?

Não raro, nos damos conta que sentimos que Deus falou conosco (de uma maneira tida como íntima, pessoal e específica) quando lemos um texto bíblico que julgamos extremamente adequado às nossas necessidades momentâneas. Há algum problema com isso? Sim e não. Não, porque cremos que Deus de fato fala conosco. E sim, porque o próprio conceito de Deus falar conosco precisa ser melhor definido a fim de podermos elucidar a questão de forma satisfatória. Se crermos que Deus fala conosco apenas quando estivermos com alguma necessidade específica, fatalmente concluiremos que não é sempre que Deus fala, ou que não é sempre que teremos interesse em buscá-lo, porque não é sempre que temos necessidades específicas. Não é sempre que há pessoas doentes em nossa casa, ou que há dificuldades financeiras que precisam ser superadas. E, para este breve momento de meditação, é esse problema que precisa ser solucionado.

É incrível que nós e a Bíblia pensemos coisas diferentes quando o assunto é a definição de necessidade. No nosso ponto de vista, temos uma necessidade quando, por um momento breve ou longo, estivermos passando por algo que não queríamos estar passando, ou estivermos sem algo que não queríamos perder ou que julgamos que não poderíamos ter perdido. Assim, pedimos a Deus que nos console o coração através de textos que exaltem sua majestade e poder, o que, no nosso conceito, acende uma esperança no coração de que Deus corrigirá a situação. Vamos ao culto com aquele problema no coração, com a convicção de que ele é a causa do nosso sofrimento, e que a única coisa que Deus poderia fazer para amenizá-lo é tirar isso do nosso caminho. Deus ser soberano, por essa maneira de ver, quer dizer que ele irá solucionar nosso problema da forma que imaginamos ser melhor.

Agora, embora seja inquestionável que a Bíblia afirme que Deus é soberano e que há uma esperança, a interpretação desses conceitos que ela mesma oferece é bem diferente. Deus ser soberano implica que ele faz todas as coisas cooperarem para o bem daqueles que o amam (Romanos 8:28), e que existe uma ordem para todos os acontecimentos que foi soberanamente estabelecida antes mesmo da fundação do mundo (Salmos 139:16). Ou seja, o fato de Deus ser soberano deveria nos levar a aceitar o que estamos passando como algo necessário e antecipadamente planejado para o nosso bem supremo: a santificação do nosso ser. Nesse contexto, a nossa principal necessidade é a santificação, e não a saúde perfeita ou o crescimento do patrimônio pessoal. E, na mesma linha, nosso principal problema é o pecado que habita em nós, e não a não-realização de nossos planos.

Como temos lido a Bíblia? Queremos que ela concorde conosco? Esperamos que ela, de um jeito ou de outro, abençoe nossos caminhos e confirme nossos planos? E se, baseado no que ela mesma diz, você resolver reinterpretar seus conceitos? E se, para você, o fato de Deus amar aos seus filhos implica que ele os corrigirá e aperfeiçoará, e não que ele lhes dará o que desejam? E se a soberania de Deus nos conduzir à gratidão, e não ao desespero pela mudança das circunstâncias? E se você concordasse em ler a Bíblia para aprender que ela manda que discordemos de nós mesmos? Que o Espírito Santo nos proporcione essa experiência, e você verá que, pessoal e especificamente, Deus vai falar com você. 

João Pedro Cavani

Recém Publicados

Categorias