Entre os meus dez filmes preferidos está “Conduzindo Miss Daisy”, no qual os personagens são Daisy, uma viúva independente de 72 anos, e Hoke, seu motorista afro-americano, dez anos mais novo que ela. Após um acidente, Daisy se convence que já não seria prudente continuar dirigindo seu carro, e seu filho a incentiva a contratar um chofer. Daisy fez de tudo para não se relacionar com ele, devido à incapacidade de dependência que tinha. Hoke, com grande sensibilidade, foi fazendo o seu trabalho, e, no final, os dois se tornam grandes amigos. O filme termina com Hoke colocando comida na boca de Daisy.
Este filme nos ensina que temos dificuldades em depender das pessoas, o que jamais deveria ocorrer. Pelo menos na vida dos cristãos.
No capítulo 7 de “Discípulo Radical”, Stott narra o acidente que sofreu em seu quarto, quando tropeçou numa cadeira que ficava entre sua cama e uma estante de livros. Conta ele que, mesmo estirado no chão, conseguiu acionar o botão de emergência, e logo chegaram seus amigos. Stott faz uma narrativa da sequência de dependência que ele teve para chegar até ao centro cirúrgico a fim de colocar uma prótese. Em seguida, Stott reconta a sequência de dependência que teve até chegar seu local de convalescença. A lição que ele aprendera a partir da experiência com esses acontecimentos? Somos dependentes uns dos outros, e isso faz parte do plano de Deus.
Em João 21:18, Jesus diz a Pedro: “Em verdade, em verdade lhe digo que, quando era mais moço, você se cingia e andava por onde queria. Mas, quando você for velho, estenderá as mãos, e outro o cingirá e o levará para onde você não quer ir.” Embora essas palavras sejam específicas quanto a Pedro e sua morte, elas propõem um importante princípio em relação ao envelhecimento. Não é raro escutarmos pessoas idosas dizerem que querem viver enquanto conseguirem cuidar de si mesmos, ou que não querem ser pesados para ninguém. Stott diz que essa é uma postura errada, e que todos nós estamos destinados a ser um peso para alguém. Você está destinado a ser um peso para mim, e eu estou destinado a ser um peso para você. A vida familiar, incluindo a família da fé, deveria ser de responsabilidade mútua. “Levem as cargas uns dos outros e, assim, estarão cumprindo a lei de Cristo” (Gálatas 6:2).
No final do capítulo, Stott afirma que o próprio Cristo provou a dignidade da dependência. Ele nasceu como bebê, totalmente dependente de sua mãe. Ao longo de seu ministério, também dependeu de alguma forma de assistência. Após sua morte, ele dependeu de pessoas para o seu sepultamento. Isso quer dizer que a recusa em ser dependente não é sinal de maturidade, e sim de imaturidade. O discípulo deve saber que é dependente de Deus e das pessoas, e isso fará dele mais humilde, mais humano e mais parecido com Jesus.
Rev. Sílvio Ferreira